O futuro das exportações agrícolas brasileiras

Os desafios e compromissos com o meio ambiente, sob os olhos da Europa e dos Estados Unidos.

Artigo publicado originalmente na Gazeta da Norma.

Historicamente o agronegócio é o setor de maior representatividade da economia brasileira, respondendo por mais da metade das exportações nacionais, especialmente em relação a soja, minério de ferro, açúcares, oleos brutos de petróleo, carnes, café, etc…, sendo um país consolidado como o maior exportador líquido (diferença entre exportações e importações) de produtos agropecuários do mundo. E esta posição acabou por ser potencializada com os reflexos da pandemia da COVID-19, culminando com o considerável incremento global na demanda de produtos nacionais, em razão do aumento de consumo por parte da China, África, e ainda de países do Sul e Sudeste da Ásia, a chamada “Ásia do Futuro” reforçando o papel do Brasil como protagonista na segurança alimentar mundial.


A China é o principal destino de nossas exportações de soja, carne bovina, açúcar, algodão e celulose, mas há que se considerar o aumento na demanda da Índia, que demograficamente substituirá a China em quantidade de pessoas, e ainda países como Cingapura e Taiwan, que apontam crescimentos de renda per capita em patamares elevado nos últimos anos.

Fato é que ambos indicadores representam aumento no consumo de produtos exportados pelo Brasil. Se considerarmos ainda o crescimento na demanda mundial e a desvalorização do Real frente ao dólar (o que acaba sendo bom para quem exporta), tem-se um cenário de alinhamento dos astros, sob o ponto de vista econômico.

Porém esta euforia precisa ser controlada, haja vista estarmos diante do maior de todos os desafios comerciais que já tivemos, qual seja o compromisso com o meio ambiente, que hoje é tema central da preocupação da Europa, especialmente com a política agrícola adotada pelo bloco e também pelo advento do festejado Green Deal. Os Estados Unidos da América, por sua vez, após as últimas eleições retornam à visão multilateralista, aproximando-se de entidades como Organização Mundial do Comércio e Organização Mundial da Saúde, até então rejeitadas pelo governo antecessor.

Mas fica a dúvida: se o principal destino das exportações brasileiras é o continente asiático, qual o motivo de tanta preocupação com o que se estabelece na Europa e mais recentemente nos EUA? Isto ocorre pois o continente Europeu, e em especial Reino Unido e Holanda, são os grandes porta vozes globais do meio ambiente, e atualmente com mais ênfase após as alterações promovidas pelo Pacto Verde, que dentre seus pilares traz o expresso repúdio ao comércio internacional junto a países que desmatem, ou que não apresentem uma cadeia de gerenciamento de suprimento (supply chain management) livre de desmatamento ou emissão de carbono.


E neste ponto o Brasil tem sido encarado como um grande vilão. Isto porque não é capaz de cumprir e fazer cumprir a legislação ambiental, tendo em vista que a implantação do código florestal se arrasta há uma década, sem ter resultados satisfatórios, tendo o desmatamento ilegal aumentado nos últimos quatro anos. Não é sobre vender mais para Europa, pois sua participação deve representar cada vez menos na relação de principal destino das exportações agrícolas.

Além de ser um mercado maduro (com pouco crescimento de demanda), o Brasil comercializa basicamente commodities, que têm encontrado restrições em alguns países importantes da Europa, engajados no movimento anti proteína animal, açúcar, etc…

É preciso enfatizar que a maior parte das commodities exportadas pelo Brasil não são produzidas ou dependem diretamente da Amazônia, mas sim de outros biomas. Entretanto o grande ponto é como o Brasil trata a Floresta Amazônica, e seu papel imprescindível na manutenção de serviços ecológicos, tais como, garantir a qualidade do
solo, dos estoques de água doce e proteger a biodiversidade.


A tendência do comércio global, é que os países busquem outros mercados, que diminuam ou rastreiem toda a cadeia
produtiva, e para isto estão dispostos a incrementar subsídios e benefícios, ao mesmo tempo em que capitalizarão apenas empresas e países certificados, após aprovação em criteriosas due-diligences, que asseverarão o cumprimento das melhores práticas ambientais, sociais e de governança pelo país requerente.


Ocorre que as políticas públicas brasileiras têm caminhado em sentido contrário, e isto está nos custando caro, e levará tempo para reverter. Não podemos nos apresentar à comunidade das nações como uma sociedade em risco de retrocessos e rupturas institucionais. O Brasil é muito maior e melhor do que a imagem que temos projetado ao
mundo.

O desenvolvimento do setor privado tem sido acelerado e eficiente, especialmente na aplicação de tecnologias tropicais que proporcionem uma agricultura regenerativa, com duas safras anuais em cada hectare, o que nenhum país da Europa conseguiria entregar sem afetar frontalmente o meio ambiente. Diante deste cenário, entendo que o caminho é termos uma agenda comercial externa (que hoje é nenhuma), retomando o diálogo com China, Estados Unidos e Europa, de maneira transparente, falando abertamente sobre o desmatamento e as emissões de carbono.

O Brasil deveria assumir verdadeiramente o protagonismo destas ações, atuando ativamente na implantação da ESG nas cadeias agroalimentares, baseando-se em três elementos fortemente pautados em um ecossistema sustentável: maior prosperidade (melhora de distribuição de renda ao longo da cadeia de suprimentos), equilíbrio com a natureza (produtividade em harmonia com a conservação do solo, água e ar) e inclusão (empoderamento das comunidades e
inclusão de mulheres, jovens e minorias indígenas).


Continuar sendo a maior potência a alimentar do mundo, exigirá muitos esforços entre os setores público e privado, pois nossa expansão agrícola deve estar comprometida em incrementar a agricultura biológica, reforçar a biodiversidade na agricultura e não menos importante, apoiar as medidas através da diplomacia.

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